Tudo que senti com Extraordinary Attorney Woo
Essa sou eu, com uma aba aberta no Google Chrome (único navegador possível, desculpa firefoxers - usuário de Opera nem é gente) carregando o episódio 14 de Extraordinary Attorney Woo - Uma Advogada Extraordinária, em português - , ainda sem coragem de dar play. É a reta final de um dos dramas que mais me marcou esse ano (e, vamos lá, sou lenta demais pra assistir qualquer coisa, mas concluí recentemente My Liberation Notes - Meu Diário para a Liberdade, em português - e Pachinko mês passado, dramas sobre os quais ainda não postei porque tal qual Roberta Miranda, não sei o que escrever, apenas SENTIR) e, tranquilamente, um dos meus novos favoritos da vida. Evitando postergar o inevitável post (como estou fazendo com os dois dramas citados anteriormente), decidi começar a escrever sobre a maravilhosa, incrível, extraordinária Woo Young Woo antes mesmo do drama acabar. É tanto sentimento, tanto pensamento provocado por essa história delicada, sensível, forte e única, que não quero correr o risco de perder nada pro esquecimento - embora o drama seja, de fato, inesquecível.
Sem saber como lançar essa braba, se vai ser em tópicos, motivos pra assistir e amar ou uma resenha apaixonada, vou deixar acontecer naturalmente (obrigada Exaltasamba) e, quem sabe, o texto vire uma mistura disso tudo. Desculpa pela possível bagunça estilística! Mas vamos ao que interessa.
Me encantei pela Park Eunbin em Age of Youth - também conhecido como Hello, My Twenties!, sem título em portugês - e não imaginava que seria possível a atriz me conquistar ainda mais. Sua personagem no drama que mostra a vida de jovens mulheres que dividem os sonhos, medos e a vida morando na república Belle Époque é uma das minhas personagens favoritas de todos os tempos, de um dos meus dramas mais queridos da vida, também. Impossível ela desbancar a si mesma, certo? Errado! Além de surpreender com escolhas de papéis extremamente diferentes em cada novo projeto, Eunbin encanta com sua atuação impecável, que empresta brilho próprio para as personagens que interpreta. Em Attorney Woo, não poderia ser diferente: a atriz vive a protagonista da trama, uma mulher no espectro autista que, desde criança, descobre sua verdadeira vocação no Direito. Woo Young Woo (que pode ser lido com as sílabas de trás pra frente, como catraca, caneca e cômico, Woo Young Woo) é, como ela mesma se descreve nos primeiros episódios - e que, respeitosamente, reproduzo aqui - inteligente e tola. Ao mesmo tempo em que se destaca com habilidades extraordinárias de memorização, interpretação e aplicação das leis, a jovem enfrenta as limitações e os desafios impostos pela Síndrome de Asperger - o diagnóstico da personagem, como apresentado no drama, salvo engano.
Tratar sobre o tema da neurodivergência em um drama de 16 episódios seria, por si só, um esforço cuidadoso. Afinal, estamos falando sobre uma produção da Coréia do Sul, país superdesenvolvido onde, tragicamente, ainda reina o atraso em que falar de saúde mental é tabu. Como se não bastasse essa dificuldade natural, Extraordinary Attorney Woo apresenta, bravamente, uma protagonista incomum até mesmo para os padrões ocidentais: você se lembra de já ter visto em séries estadunidenses, por exemplo, uma mulher neurodivegente? E uma mulher no espectro autista? E qualquer mulher com algum transtorno ou doença mental sendo personagem principal, liderando a trama? Consigo pensar em apenas dois casos assim: United States of Tara, em que a protagonista, vivida por Toni Collette, tem Transtorno Dissociativo de Identidade; e 13 Reasons Why que, na minha opinião, é um desserviço na representação da depressão. Extraordinary Attorney Woo navega serenemante no mar revolto que é a amostragem de questões psicológicas na ficção. Graças ao texto rico da criadora do drama, a roteirista Moon Jiwon, o espectador não se depara com qualquer absurdo ou indelicadeza - além, é claro, daqueles incluídos propositalmente, que exemplificam o preconceito e a ignorância com que pessoas autistas são tratadas na sociedade - mas, em vez disso, é surpreendido por uma história singular. Segundo a roteirista, "normalmente chamamos pessoas incomuns de exêntricas, não-conformistas, geniais, bizarras, estranhas, e especiais, extraordinárias. Essas pessoas extraordinárias frequentemente deixam os outros nervosos ou criam problemas, mas ao mesmo tempo, deixam nosso mundo mais empolgante e abundante. Eu espero que os espectadores sintam o poder das pessoas extraordinárias através de Extraordinary Attorney Woo."
Woo Young Woo é, como toda personagem bem escrita e desenvolvida, muito mais do que o que a sinopse prevê: além de pessoa autista e advogada habilidosa, Woo é doce, tem um senso de humor peculiar, é apaixonada por baleias, golfinhos, kimbap, justiça e, como descobrimos ao longo do drama, por Lee Junho. A busca da personagem por uma carreira onde ela possa empregar todo seu talento e genialidade é acompanhada pela busca por uma socialização adequada ao seu próprio ritmo e também, é claro, por romance. O desenrolar de tudo isso é um presente para os sentidos. Experimentar com Young Woo o desabrochar de um amor correspondido, vivido de maneira extremamente saudável e respeitosa, é delicioso. Metade da responsabilidade de trazer para a tela esse casal apaixonante é de Kang Taeoh (sobre quem já falei aqui anteriormente, em um post totalmente fangirl e vazio de comentários apropriados sobre atuação), que interpreta um dos interesses românticos mais incríveis que já tive o prazer de assistir em um drama e qualquer outra produção televisiva em geral: o genro dos sonhos Lee Junho. Mais uma vez, o drama acerta em cheio ao mostrar um personagem querido, popular e sinceramente LEGAL sem forçar a barra do bom-mocismo. Junho é um verdadeiro cara bacana, sem grandiosidades de príncipe encantado, o que torna ele e seu amor por Young Woo mais honestos, vívidos, realistas. Ele também se frustra, é claro - e suas expressões são impagáveis - , mas demonstra paciência sobrehumana pra lidar com as singularidades da mulher que o conquistou. E conquistou, mesmo: o romance entre Young Woo e Junho não tem nada de impossível, não é amor à primeira vista ou uma cisma intensa como acontece em muitas histórias, não tem nenhum motivo espetacular pra existir. É apenas natural que duas pessoas extraordinariamente amáveis acabem gostando uma da outra. Junho comenta que o nome da advogada é um palíndromo de sílabas, como ela mesma adora dizer. Ele percebe que o ferro de passar lembra uma baleia, como ela própria também havia percebido. Essas associações nos mostram, de maneira sutil, que eles compartilham de uma mentalidade muito parecida, de uma tendência de pensar conformemente. Quer razão mais bonita do que essa pra se apaixonar por alguém? Junho entende que não é fácil se relacionar com Young Woo - ele valida a experiência da jovem ao concordar quando ela diz, num momento íntimo, que é difícil amá-la. Ele sabe. Ele quer mesmo assim. (E é por isso, cara leitora que ainda está comigo até aqui, que eu ainda não dei play no episódio 14, pois não estou pronta pra ver meu 10/10 ambulante sofrer. ATUALIZAÇÃO: já assisti, já sofri, morri mas passo bem. Lutando a mesma batalha pra dar play no episódio 15 agora).
Os casos que conduzem o ritmo de cada episódio são o pano de fundo para o desenrolar da trama e pretextos para tratar as questões pessoais de Young Woo e dos personagens secundários - em sua maioria uns queridos, quase tão extraordinários quanto a advogada - mas, além disso, são alertas sociais necessários. Assuntos como preconceitos, suicídio, diferenças entre pessoas neurodivergentes, igualdade de gênero, direito ao casamento entre iguais são debatidos com maestria, nos levando a pensar, a sentir raiva, a comemorar vitória ou amargar derrota ao fim de cada episódio. Dois dos meus preferidos (SPOILERS) são o 9, que denuncia a cultura de sobrecarga infantil nos estudos e defende o direito a uma infância saudável, e o 10, que questiona a possibilidade de pessoas com deficiência intelectual entrarem em relacionamentos abusivos sem perceber (ou conscientemente?), porque são mais vulneráveis e podem confundir amor com tirar proveito (é uma discussão complicada, que o caso não responde de maneira conclusiva). No mesmo episódio, porém, a advogada Choi Suyeon - outra personagem maravilhosa e cativante - um exemplo de mulher bem-sucedida, beleza padrão e sem problemas de saúde mental, luta para encontrar um cara decente pra namorar. Um paralelo curioso entre as aparentes diferenças que nos afastam e as vulnerabilidades que nos aproximam quando se trata de assuntos do coração. Somos iguais na busca por amor.
Há ainda muito o que falar sobre a melhor amiga doidinha que não cai no estereótipo óbvio de "melhor amiga doidinha", a espontânea Dong Geurami, com quem Young Woo tem um relacionamento precioso e um cumprimento divertido que virou moda; sobre o pai incansável de Young Woo, que não exige demonstrações de afeto padrão da filha, mas oferece um mundo de carinho e cuidado; sobre a atriz mirim que interpreta Youngwoo criança, com dificuldades ainda maiores de socialização; sobre o Sol de Primavera (esse apelido, pelo amor de Deus!!!!! Meu coração faltou explodir) Choi Suyeon, que é uma prova de que as aparências enganam e há muito mais sob a superfície do que o lindo rostinho e postura de menina malvada escondem; sobre as poderosíssimas CEOs das firmas rivais Hanbada e Taesan; sobre o amado advogado Jung, chefe do time, que enfrenta seu próprio julgamento contra Young Woo e se mostra pronto pra aprender, respeitar e gostar do jeito da novata; sobre o detestável advogado Kwon e sua ambição que leva a pisar em qualquer um que estiver no seu caminho, principalmente em Young Woo (será que vem um arco de redenção por aí? Acho que sim, posso gostar disso).
Há tanto pra falar porque Extraordinary Attorney Woo é um clássico instantâneo, desses dramas que a gente ainda vai querer comentar por muito tempo, que vai pipocar na nossa mente de vez em quando, que vai ter na ponta da língua pra recomendar. Porque é único, porque faz refletir, suspirar e dar risada, porque emociona. Porque é divertido e diverso. Porque, como bem descreveu a autora, "O programa reflete várias histórias sobre diversidade. Eu não sei se a mensagem é explicitamente enviada, mas se eu pudesse colocar a ideia principal do programa em uma frase, seria 'respeite a diversidade'", disse Moon. Porque é realmente extraordinário.
Perfeita! Analise perfeita desse drama encantador.
Agora esse Jung de camisa estampada , óculos escuros e chapéu, morri... de novo!!!!
Caraca!!!! Chorando com tudo isso!!!
Lindos de se ler, singelo demais e meu coração tá sentindo cada reflexão sobre esse dorama, que não tem UM defeito.
Já me emocionou o 15⁰, que foi perfeito sabe?
Aí juntou com essa homenagem que estamos acompanhando, fazendo me sentir esperançosa com a natureza humana.
Muito obrigada , de verdade.