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Amor e Outros Dramas: A Vida Como Ela É


Muito antes de abril, quando Our Blues (Amor e Outros Dramas na Netflix Brasil) começou, eu esperava AMAR a história. Era a volta do meu amado Kim WooBin, e melhor ainda, contracenando (na teoria) com sua amada Shin MiNah. Desde quando saíram as primeiras notícias e rumores sobre esse drama, a expectativa criada foi lá na lua e voltou, seria impossível não amar! Mas chegando em abril, tivemos o primeiro final de semana com a história e dois episódios, que para nós, foram decepcionantes, ao ponto de ser largado por uma. Continuar esse drama depois desse início e decepção foi difícil no começo, mas valeu a pena o sacrifício. Quem insistiu mesmo sem gostar do comecinho, foi contemplado com uma história linda atrás da outra.


Our Blues trouxe para as telas temáticas importantíssimas da sociedade moderna e o fez de uma maneira impecável, era possível sentir, se emocionar e se importar com todos os lados das situações. Não havia vilão para torcer contra, apenas pessoas com seus defeitos e qualidades. Talvez essa realidade tão nua e verdadeira tenha feito com que o drama marcasse tanto a gente, principalmente após dois anos tão difíceis, nos quais a gente sofreu a distância e perdeu pessoas umas atrás das outras. O drama, numa espécie de antologia, se dispôs a contar a história de várias personagens, todas protagonistas de suas próprias tramas, que se fundiram no final para trazer o que podemos chamar de "a grande epifania": é possível ser triste no lugar onde a natureza te sorri da forma mais feliz, mas que nunca nos esqueçamos de que não nascemos para a tristeza; nascemos para sermos felizes e fazermos os outros felizes. E é isso que Our Blues trabalha com profundidade e perfeição.


Assim como Twenty-Five Twenty-One (Vinte Cinco, Vinte Um, na Netflix Brasil e nesse texto aqui no DREAM), Our Blues trouxe para nossas vidas momentos de reflexão sobre como pessoas vem e vão nas nossas vidas, mas o que ficam são as histórias e os sentimentos; porque nós somos, em nossa essência, contadores de histórias: nós contamos histórias todos os dias ao, olhe só, viver! E é importante a gente entender que tá tudo bem perder alguém pelo caminho, é a vida como ela é.


Falar sobre Our Blues é difícil, mas necessário. A gente brinca que 25-21 alugou um triplex nas nossas cabeças e agora pegou Our Blues como colega de quarto. Coincidentemente, um ocupou o espaço do outro na programação da tvN. Destinados a serem irmãos. A frase que finaliza o drama está batendo na nossa cara há horas e duvido que vá parar tão cedo. Assim como o drama, que respeitou seus personagens e suas histórias, dedicando capítulos específicos para mergulhar no mar de suas memórias, motivações, sorrisos e choros, é preciso dividir em partes o que fez dele um dos melhores do ano, e quem sabe, da vida.


As haenyeos

As haenyeos são famosas na Coreia, e no mundo, pela habilidade de mergulhar sem equipamentos até 10 metros de profundidade no mar. E o mais incrível, são mulheres em sua maioria com mais de 60 anos de idade! Em Our Blues, essas super-heroínas da cultura coreana ganharam vida. Vida no sentido de que, agora, conseguimos ver além das roupas de borracha e máscara de mergulho, vemos histórias pessoais fora da água. Nossas queridas senhorinhas são personagens iguais às outras: com inúmeras qualidades, mas também com muito defeitos. São super-heroínas de carne e osso, que vivem todos os dias com sonhos, esperança e arrependimentos. E elas vivem tudo isso igual diz a tatuagem que todas têm marcadas no braço: com união.


E por passarem muito da vida embaixo d'água, elas podem se assemelhar aos peixes, outros seres que levam à risca o termo que estas mulheres levam na pele. Peixes pequenos nadam em cardume não apenas para se defenderem dos predadores; eles demonstram sua sincronia para mostrarem ser maiores do que são para quem os vê de longe possa enxergá-los como um só indivíduo. Naquele estilo "a união faz a força": iguaizinhos às nossas mergulhadoras. Tal característica das haenyeos é vista não só durante o trabalho árduo e complicado de colher frutos do mar mergulhando apenas com a própria força pulmonar, ela também está no dia a dia, enquanto uma sofre, as outras estão lá para ajudar e apoiar; como uma verdadeira família.


Hyeon e Yeong Ju

O famoso casal adolescente de Our Blues sem dúvidas foi o que garantiu que continuássemos a ver esse drama. Com esse jovem casal, o drama explora os temas aborto, gravidez na adolescência e paternidade. Em 2019 a Coréia do Sul descriminalizou o aborto, efetivando a decisão apenas ano passado, e a trama mostrou de forma brilhante os anseios, as dúvidas e os medos da protagonista feminina porque existir a possibilidade nem sempre significa existir facilidade ao acesso. Em contraponto, temos um jovem pai presente em todos os momentos, completamente respeitoso e atencioso com sua parceira (e as decisões dela!); além de uma abordagem bonita, mas não idealizada, do casal de adolescentes.


Apesar das temáticas tão difíceis e complicadas, nosso casal foi dono das cenas mais leves e bonitas do drama, o que provavelmente tem origem na inocência da juventude, que enfrenta problemas com esperança e, sobretudo, amor.


In Gwon e Ho Sik

Antes de serem os pais solo de Hyeon e Yeong Ju, os Romeu e Julieta de Jeju, ou de serem dois comerciantes que se detestam, eles eram amigos que cresceram juntos pelas ruas de Pureung, mas se separaram de forma irreconciliável; até que a vida encontrou uma maneira de uni-los novamente. E nosso coração se partiu e se refez durante o episódio 08 de Our Blues, quando tivemos a oportunidade de enxergar quem esses dois homens são através de todas as camadas de ressentimento, mágoa e saudade. In Gwon já foi gângster e apesar de ter mudado de vida depois de alguns acontecimentos traumáticos e em prol de o filho enxergá-lo com bastante orgulho e nenhuma vergonha, ele mantém ao temperamento explosivo enquanto vive de forma decente ao vender sundae. Ho Sik é um vendedor de gelo que não mede esforços para realizar os sonhos da filha, a melhor estudante da turma, construindo seus ideais a partir dos sonhos idealizados junto aos dela, mas ele quebra ao descobrir que a filha está grávida porque precisa encarar a realidade que diz que nada será como ambos planejaram.


E o drama aborda de forma incrível como esses dois homens lidam com as próprias vulnerabilidades e medos, entregando um "enemies to lovers" completamente crível e bem executado em todas as suas motivações. Desde a forma como eles "se unem" para lidar com o fato dos filhos adolescentes se tornarem pais até a construção de uma nova família forjada pelo sangue, fortalecida pelas memórias que, agora, não mais doem, eles dois dão uma aula de sensibilidade! A cena em que revisitamos o momento em que tudo mudou entre eles, mostrando como In Gwon ganhou muito dinheiro com o crime e Ho Sik perdeu todo o seu dinheiro em jogos e apostas, nos deixa o aviso de que, por conta daquilo que falamos sem pensar, nós podemos perder pessoas muito especiais. É sobre uma jornada de amizade repleta de nuances e profundidade que, antes de qualquer coisa, nos ensina e emociona.


Chun Hui e Eun Gi

Uma das cenas mais lindas e emocionantes dos 20 episódios de Our Blues tem origem nessa dupla: uma haenyeo já falando como se estivesse no fim da vida e sua única neta, uma criança no começo da sua. Os conflitos geracionais entre as duas são hilários e relaxantes de assistir, enquanto sofremos junto com a menina, tão novinha, escondendo de sua avó (e único adulto por perto) um segredo tão importante e dolorido.


Com as duas aprendemos que respeitar as diferenças culturais e os sentimentos uns dos outros; seja qual for a idade, é necessário para que a relação seja saudável, gentil e admirável. Eun Gi nos mostrou com maestria a importância de ouvir e cuidar com amor de uma criança, que apesar do tamanho, também tem preocupações e sofrimentos. Chun Hui nos mostrou como as cicatrizes da vida deixam marcas profundas, mas aprendemos que passar a enxergar nossos dias com "olhos de criança" nos dá a possibilidade de construir um futuro que vira presente. Com elas também entendemos que ter esperança e acreditar que tudo é possível, até mesmo rezar para 100 luas, é necessário para que possamos viver em paz.


Miran e Eun Hui

Nossa inesquecível proprietária da pensão mais assustadora da Coreia está de volta em Our Blues, completamente diferente. Como Eun Hui, ela agora dá vida àquela expressão solteira sim, sozinha nunca. Talvez sendo o elo entre todos as personagens da história e o eixo pelo qual toda a trama orbita, como um ponto em comum nas vidas de todos ali, Eun Hui é aquela pessoa que sabe ajudar, mas não sabe ser ajudada por se colocar em um degrau inferior ao dos amigos. Miran, por sua vez, é aquela personagem que a cada cena você não sabe se ama ou se odeia, se sente inveja ou pena. Ela é a representação daquela frase universal: ninguém sabe o que se passa na vida de outra pessoa. E entre flashbacks e enumeração de ex-maridos nos dedos das mãos, vamos percebendo as camadas dessa personagem; das artimanhas da vida ao juntar essas duas mulheres desde muito jovens até agora.


A amizade de décadas das duas também traz ao drama e ao telespectador uma reflexão sobre como tratamos nossos amigos e porque temos esses laços antigos mesmo com tantas diferenças. Elas nos fazem pensar em Salto, da Sandy, na parte em que diz: "Me decifra e me traduz. Nas minhas sombras, você vê a luz. Você sabe tudo, e tudo bem, o que eu sou de verdade, e só presa a você eu me sinto em liberdade". É sobre liberdade para ser quem se é. Sobre lealdade, principalmente a si mesmo.


Yeong Ok e Jeong Jun

Se a dupla anterior representava a amizade com personalidades diferentes, essa representa o relacionamento amoroso com opostos (que sempre se atraem?). Yeong Ok é a mulher misteriosa para a comunidade de Pureung. Ninguém sabe ao certo suas origens e o que é verdade sobre ela. Vinda do continente para a ilha, ela mexe com a cabeça de todos com respostas vagas sobre sua vida. Enquanto Jeong Jun, o capitão calado que vai florescendo à medida que a trama avança, é o apaziguador de brigas e querido por todos aonde quer que vá. O encanto dele com essa haenyeo misteriosa é muito gostoso de assistir.


A timidez e os diálogos diretos, as dúvidas que surgem sobre esse possível amor e mais do que tudo, a insistência sem passar dos limites para quebrar o escudo de defesa da pessoa por quem tem sentimentos, fazem desse casal irresistível. O relacionamento dos dois é como um jogo de puxa-empurra que ao mesmo tempo em que demonstra as dificuldades para ficarem juntos, cativam o telespectador numa escalada emocional desenvolvida de forma linda!


Yeong Ok e Yeong Hui

É a primeira vez que vemos uma pessoa com Síndrome de Down em dramas, como também é a primeira vez que vemos o assunto ser retratado da forma que deve ser: com naturalidade. A relação das duas irmãs gêmeas é algo muito bonito e importante de acompanhar principalmente porque não há a camada de idealização nem de pureza infantilizada que quase sempre conferem à PCD. Our Blues vai fundo nos sentimentos mais feios da Yeong Ok, por assim dizer, como rejeição e culpa familiar, sem parecer forçado ou caricato. Para melhorar, apresenta uma Yeong Hui completamente independente dentro das suas limitações, que se apresenta e é vista como mulher, não como uma criança no corpo de uma adulta, que tem voz e é consciente de seus desejos e vontades. O episódio 15 é um abraço apertado na gente porque fala sobre a solidão dessas duas irmãs sem utilizar uma palavra sequer. A gente vê. A gente é convidado a sentir.


Dong Suk e Seon A

Dong Suk, o homem mais azarado de Jeju, é aquele tipo que quase ninguém olharia duas vezes, mas que é tão intrigante porque o potencial de dar errado é todo ao seu favor, que é impossível desviar os olhos: você tem curiosidade em saber quando e principalmente como tudo começou a desandar na vida dele. Nascido e criado em Pureung, ele vende um sem-fim de artigos em seu caminhão e depois de reencontrar Seon A, seu primeiro amor, quando morava em Seoul, vê o destino recolocá-la em seu caminho novamente; desta vez sob o azul do mar de Jeju. O casal se reaproxima, se ouve, se ajuda e compartilha seus traumas de forma que o passado começa a esboçar cura; de forma que o presente anuncia um caminho a dois para o futuro.


Caminho bastante difícil para Seon A, quem faz uma representação brilhante da depressão em mulheres adultas que necessitam lidar consigo mesmas, trabalho dentro e fora do lar, casamento e filhos enquanto lida com um processo de divórcio e guarda parental. O peso que ela carregava era palpável, a representação dos sentimentos, fazendo uso do recurso da água e da luz, incrível! Carregadas de sinestesias e simbolismos, as cenas da Seon A são cheias de significado, principalmente porque a relação dela com o Dong Suk precisava de tempo para se consolidar, para fortalecer; para florescer. Juntos, eles veem a vida encerrar capítulos e iniciar novos, ao diminuir distâncias e dores e somar aprendizados e trocas.


Dong Suk e Ok Dong

Acompanhar essa relação mãe e filho foi como andar numa montanha-russa. Ainda que morassem na mesma cidade, eles estavam separados por muros emocionais difíceis demais para a Ok Dong escalar, grossos demais para o Dong Suk quebrar. Entre fatos, inicialmente, não explanados e uma sequência emocionante na tríade final dos episódios de Our Blues, os muros estruturados pelas palavras não ditas e edificado pelas dores e dissabores de tudo o que poderia ter sido, começam a ruir: nós entendemos as razões de ser de um e do outro, nós assistimos às duas versões do conto; nós percebemos que, no fim das contas, era uma única história escrita a quatro mãos. E principalmente, que não há lado para escolher porque a trajetória dessa mãe com seu filho, apesar de ter sido mostrada assim no começo, não era uma luta, sim, uma valsa.


A comunidade de Pureung

Costurar múltiplas narrativas completas e complexas e utilizar perspectivas distintas sobre o mesmo fato é algo extremamente difícil, mas parece fácil quando assistimos a Our Blues. Todos os detalhes são trabalhados com cuidado e todas as histórias executadas com preciosidade, permitindo ao telespectador mergulhar nos mares ora calmos, ora turbulentos dos habitantes da Vila de Pureung. Nenhum episódio parece descolado do outro, assim como nenhum personagem vive sozinho porque, naquela ilha, "nenhum homem é uma ilha", como diria Thomas Morus.


O universo particular de cada um é quem dá o ritmo às histórias, todas conectadas entre passado e presente, tais quais os moradores de Jeju e seu senso de comunidade, companheirismo e responsabilidade coletiva: eles sentem e vivem como uma grande família. E por estarem unidos pelos fios invisíveis da convivência e da amizade, eles dão as certezas implícitas de estarem presentes uns para os outros seja para bater papo enquanto dividem a lida diária, seja para juntar 100 luas no céu: enquanto a vida se torna barulhenta ou tumultuada demais, o mar de Jeju os avisa em movimentos cíclicos que há dias de tsunami, mas também de maré baixa. Para eles, o importante é navegar. E eles navegam. Unidos.


 

Our Blues abordou temas necessários como depressão, falência, pais solo, gravidez na adolescência, homens vítimas de violência doméstica, deficiências, juventude, envelhecimento, amores, medos e perdas. Como o próprio título ilustra, há bastante tristeza e vulnerabilidade, mas também há muita esperança e sorrisos; porque enquanto existir vida, existem segundas chances. O drama ensinou como é possível contar lindas histórias sem negligenciar a evolução e a trajetória das suas personagens, dando completude e protagonismo a todo o elenco porque, ao conectar as histórias, se priorizou as pessoas. Assim, ao longo de 20 episódios, Our Blues nos fez refletir em sua narrativa intergeracional e multifacetada, nos mostrando a vida como ela é: doída, bonita; vivida.

"Há uma coisa que devemos nos lembrar em nossa vida. Não nascemos nesse mundo para sofrer ou sentir-nos miseráveis. Nós nascemos para sermos felizes.”


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