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  • neereis

Um mais um são três

Ontem eu terminei de assistir a Because This is my First Life e fiquei pensativa. Como um enredo, relativamente simples, pode ser tão profundo? Como um casamento de mentirinha pode nos ensinar tanto? É quase um estudo de caso sobre relacionamentos. E eu posso explicar.

A ideia geral que se tem sobre as relações românticas, principalmente na ficção, é a da aceitação síncrona como se ambas as partes aceitassem, simultaneamente, tudo do relacionamento e, simetricamente, investissem nele e se comprometessem com ele, não importando a forma ou o cheiro. É ceder mais. Em alguns casos é se anular. É deixar de ser um pouquinho a cada vez. Mas a vida real nos diz que somos peças de um quebra-cabeças. Imperfeitas, disformes, com buracos e arestas pontiagudas, algumas vezes. E o drama nos mostrou a vida real. Raramente coordenada com perfeição. E tudo bem também. Porque amar alguém é estar disposto.

E a história não joga na nossa cara a extrema falta de comunicação ou pinta um dos pares como o completamente incompreendido ou nos diz que algum deles tem de superar algum obstáculo externo aos sentimentos humanos para alcançar uma espécie de nirvana do amor verdadeiro. BTIMFL explora as verdadeiras diferenças em como duas pessoas se aproximam e encontram seu próprio significado do que significa estar em um relacionamento, com (re)contratos e trocas plurais. Este é o ponto central da história. E dos três casais principais tão diferentes, tão iguais, tão únicos, tão... tão eles. Eles passaram, simultaneamente, pela dor e pela apreensão de ter uma chance no amor. Apaixonada pelas relações de amizade em que as três meninas se reconhecem e se aceitam em meio a todas as diferenças porque, ali, elas encontraram o sentimento de pertença: a outros corações, a um lugar no mundo. E o mesmo vale para os três amigos. Eu amo quando as histórias focam nos relacionamentos não-românticos porque se tornam mais reais. Porque, na maioria das vezes, tudo o que nós temos é um ombro amigo e graças a Deus por isso. Ainda me pego pensando naquilo que o CEO Ma perguntou ao Se-hee que perguntou ao Won-seok: “você percebeu que na sua fala você não falou o nome dela em nenhum momento? Você só fica dizendo ‘eu’, ‘eu’, ‘eu’.”

O foco central é casamento e eu fiquei encantada com os paralelos contrapondo-se. Da Ho-rang que só pensava em se casar e se esquecia de viver o presente, por estar namorando os seus planos para o futuro, da Soo-ji que ficava com diversos homens e tinha medo de compromisso por achar que o amor não era para ela, já que supunha ter uma bagagem pesada demais e que ninguém iria querer dividir o peso da vida com ela. Eu me perguntei “quem não tem bagagem?”, mas sei que faria algo parecido com ela. Já dizia o poeta “os semelhantes se congraçam.” Ou não. Eu não me lembro da frase, mas é isto o que quero dizer.

É a busca por um final feliz sabendo que não se quer um final, apesar ser feliz. E isto é tão relacionável! Porque eu penso que, independente da idade, todos passamos por momentos parecidos de insegurança, de idealização romântica, de juntar os fiapos da vida na tentativa de fazer um novo tapete de boas-vindas para esta mesma vida que outrora nos despedaçou. São todos adultos, mas não todos maduros. São todos adultos e, mesmo com algum tipo de estabilidade, estão todos perdidos em alguma área, em algum momento. E isto é tão relacionável! E daí vem nossa protagonista, 30 anos, vivenciando todas as primeiras vezes, inclusive o primeiro amor, enquanto assinava um contrato de casamento em troca de uma casa para morar por um aluguel baixo. Como a convivência nos mostra quem é quem, né? É o famoso “comer sal junto”, você se revela para o outro alguém e fala sem dizer muita coisa. E quanto eles disseram! Mas o não dito pesou, no final das contas, porque amor é verbo e, antes de ser ação, ele é palavra.

Palavras precisam ser ditas. E o nosso protagonista demorou para entender que demonstrar vulnerabilidade é bom; é necessário. Eu não quero viver com alguém que esconda de mim o que sente ou o machuca porque isso é o que pais fazem para proteger os filhos. E eu já tenho pais. Mas eu não teria paz, se assim o fosse. No amor romântico a gente protege um ao outro contando para o outro como podemos nos proteger; juntos. É dividir o mesmo guarda-chuva ao mesmo tempo em que é pedir que se abandone o guarda-chuva para encarar a tempestade juntos, molhando da cabeça aos pés, na certeza de que há outros pés trilhando o mesmo caminho. Porque escolheu pisar em solo desconhecido e, ali, chamar de casa. Casa, esta, que a Ji-ho insistia em levar na mochila até se reconhecer noutra casa, que não era dela, mas que era dela.

Amor não vem com rede de proteção. Graças a Deus por isso. Pelos corações flexíveis do Camus, pelo roteiro nunca finalizado da vida. Eu acho que amor é saber mesmo sem saber. E a Ji-ho soube desde a primeira vez. E o Se-hee também. Mas ele estava machucado demais para dizer que sabia e resolveu fazer um jardim para contemplar a chegada da primavera, esquecendo-se de que as pragas também vivem ao ar livre. Mesmo depois de muito amar ou sofrer, a vida da gente é uma grande primeira vez todos os dias. Porque todos os dias a gente vive uma vida pela primeira vez. Não confunda com seguir uma rotina, tal qual o Se-hee, sempre há uma cor diferente no nosso céu de possibilidades. E é isto o que o drama nos mostra. Nossos Quartos 19 são importantes, mas não precisam ser sempre solitários, não precisam estar sempre trancados. A gente pode chorar na presença de quem se ama e, olhe só, vê-lo permanecer porque tudo o que a outra pessoa pode estar querendo é, olhe só novamente, uma oportunidade de acessar o caminho até o coração do outro... um caminho ao nós.

Algumas vezes, sinto como se estivesse assistindo a um drama guiado por piloto automático. Não aqui. Há riqueza de detalhes porque há atenção. É real. É orgânico. É como se a história tivesse nascido de vários corações nas pontas dos dedos. Porque eu me encantei nas costuras com os livros inseridos na história e na trilha perfeita, eu vibrei no segundo beijo, eu me contorci para solucionar, mentalmente, as tramas, como se estivesse segurando o cubo mágico do Se-hee e, a cada peça que eu rodava, a química dos dois explodia na minha cara e os monólogos profundos pintavam a minha pele.

BTIMFL me deixou com aquela vontade de amar alguém. Como se fosse a primeira vez. Porque seria a primeira vez. Como antes eu fui feliz. Porque seria a primeira vez. Eu fiquei pensando em quantos muros construí, igual ao Se-hee ou a Soo-ji, mesmo quando tudo o que eu queria era a coragem da Ji-ho para dizer que sua prioridade era o amor. BTIMFL é sobre raiz. Dos sentimentos, das relações, de quem se é. É uma forma de ilustrar a vida a dois quando dois mais dois são um ou três: eu, tu, nós. Acho que essa é a equação na matemática do amor. Léo Jaime, eu achei a fórmula!


PS.: para uma louca por futebol como eu, o coração bateu forte...

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