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  • neereis

Call it what you want: Call it LOVE

Entender a solidão dos outros, para mim, esse é o começo do amor.

Raiva. Tristeza. Amor. Felicidade.


Call it Love (Isso se Chama Amor, Star+), é um melodrama de 16 episódios que conta a história de duas pessoas que encontram o amor em meio às mais improváveis circunstâncias. Shim Woojoo (Lee Sung Kyung) a filha do meio de uma família de 03 irmãos, entrou em depressão após a morte do pai e decidiu, após ver sua família roubada e expulsa de casa pela amante do seu genitor, vingar-se daquela mulher. Assim, ela conhece Han Dongjin (Kim Young Kwang), filho da mulher que ela tanto odeia. Mas a convivência dos dois revela mais do que a exaustão trazida pela dura realidade ou a solidão crônica que ambos vivem; eles passam a gerir emoções que, gradualmente, mudam... até que tudo o que sintam, se é que possamos resumir numa única palavra, se chame amor.



A belíssima fotografia do drama acentua a mágoa que os protagonistas carregam. Os cenários evidenciam a solidão iminente, a gradação de tons frios de rosa e lilás, evoca a melancolia. À medida que os episódios avançam, a gente entende caso eles não fiquem juntos, e é justamente por isso que a gente torce tanto. E chora. E sofre. Por eles. Com eles. Observar o romance entre os dois é como contemplar o início da primavera: nosso olhar sobe até a copa das árvores esperando o florescer; nosso coração aquece com o privilégio de poder acreditar que o amor existe e que, pra eles, a felicidade, item inimaginável de sentir na primeira metade do drama, também.


Às vezes eu me perguntava como todo mundo andava para frente quando eu sempre sentia que estava andando para trás. Foi porque eu tinha tanto ódio em mim. Depois que deixei isso de lado, finalmente percebi. Se eu não tivesse te conhecido, estaria andando de costas pelo resto da minha vida. Eu estava com medo de ser odiada se revelasse quem eu era. Mas fiquei grato por você não me odiar.

Todos os recursos visuais do drama parecem ter sido escolhidos com o maior cuidado possível: é uma mistura peculiar entre eventos tensos e movimentos lentos, entre as dores e as delícias de viver que, quando menos se percebe, estamos imersos; fascinados pela sutileza indescritível do despertar das mais autênticas emoções. A trilha preenche os vazios existenciais de cada um deles e, não sei se vocês também perceberam isso, mas fica sempre aquela sensação de que há um ruído consistente que se assemelha a uma notificação do celular. Penso que isso ajude a criar a tensão de que alguma notícia ruim está a caminho enquanto eles vivem... felizmente, tudo permanece no campo das expectativas enquanto vamos nos apaixonando pelo roteiro e a trama, entre uma costura e outra, vai nos dando “apoio, consolo e amor.”


Tirei todos os móveis da sala. Então montei uma barraca dentro da minha casa. E eu jurei uma coisa para mim mesmo. Eu não vou me machucar novamente. Não serei abandonado novamente.

A vingança é a força motriz da história, mas é o amor quem dita o ritmo, quem rouba a cena; quem se estabelece antes de os créditos subirem. Porque a ruína não prevalece: a história se converte num relato sobre compaixão e perdão prevalecendo sobre a amargura e o ressentimento; cobrindo feridas e ampliando perspectivas. E quando falo do amor, percebo que o amor trazido no título do drama é muito maior que o amor romântico. Uma primogênita que vivia consumida pela ansiedade e pelo sentimento de fracasso junto aos irmãos, delegando todas as responsabilidades à irmã do meio; uma mãe que abandonou os filhos quando eles mais precisavam dela porque ela, também, precisava de colo ao ter de lidar com uma doença e a infidelidade do marido (e eu me pergunto, quem cuida de quem cuida?); o filho caçula que se culpava por ser imaturo quando tudo o que ele queria era seguir os próprios sonhos; e finalmente, uma mulher que sentia carregar o peso do mundo nos ombros, a quem a vida nunca permitiria desfrutar a felicidade. A ela, coube ouvir essas palavras (numa cena que me deixou pensativa pelo resto da semana):


Ouvi dizer que um monge budista certa vez disse a meus pais: "sua segunda filha será o pilar da casa, ela valeria tanto quanto dez filhos, então crie-a bem". (...) Pela centésima vez, eu finalmente percebi. Eu estava tentando ser o pilar da nossa família.

Quando olhamos para o protagonista masculino, vemos um homem destroçado: sua mãe o maltratou, machucou e torturou emocionalmente de diversas formas, repetidas vezes, arrancando os pedacinhos de vida em todas as negligências e os pedidos de desculpas nunca ditos. A ele, coube viver no olho do furacão que era sua mãe... uma mulher que, no fim da história, começou a perceber que nenhuma das suas prioridades eram, realmente, prioridades. Dá vontade de olhar pra Heeja e perguntar: valeu a pena? Além disso, ele ainda enfrentava um episódio de depressão profunda, reflexo do relacionamento amoroso que o deixou aos pedaços; mais um baque da vida que ele, silenciosamente, empilhava.


Existiu um poeta que uma vez disse o seguinte: se você quer entender, se quer perdoar e se quer amar alguém, deve observar como ele é de costas, por um bom tempo. Se você fizer exatamente isso, não precisará tentar entendê-lo, perdoá-lo ou amá-lo desnecessariamente, porque a sombra solitária dele o fará chorar sem que você saiba. (...) Alguém uma vez disse que minhas costas parecem... tão entediantes e tão solitárias.

A essência do drama é retratar pessoas solitárias (atente-se ao fato de que não falei sozinhas). A solidão acompanhada, infelizmente, é algo mais comum do que se imagina e isso pôde ser percebido na Woojoo, sempre dividindo seus dias com dois irmãos e o melhor amigo, e no Dongjin, diariamente rodeado por pessoas no escritório. Há também aqueles que reconhecem o outro em sua própria solidão, o que marca a convivência dos nossos protagonistas em todo o desenrolar da trama. Há a solidão nas diferentes facetas do amor (ou da ilusão deste), como vimos nos relacionamentos amorosos da mãe da Woojoo e do Dongjin e nos da Haesung; na rotina familiar do trio de irmãos, gritando mais forte no filho caçula, como também na dinâmica familiar do Jun (e eu ainda me pergunto como alguém tão doce pode ser filho daqueles pais...).


Em Call it Love, tudo tem significado. As palavras não ditas, os movimentos implícitos, os olhares. E é tudo tão bem-feito, tão bem executado, que somos capazes de ver a complexidade do ser humano dentro da simplicidade rotineira. E é bonito demais ver, até mesmo aqueles personagens que não gostamos, crescendo e se percebendo de alguma forma. E eu amo como o drama aborda as expectativas que a sociedade tem sobre as relações amorosas, familiares e afetivas, através da crueza das emoções. O Dongjin, por exemplo, é a personificação da melancolia! Me corta por dentro imaginar que há mães como a Heeja, mas me alegra saber que apesar de sermos taxados como produtos do meio em que vivemos, também podemos ser o resultado das nossas escolhas, apesar do ambiente ao nosso redor.


O que você está fazendo? Você deveria estar bravo. "Como você pôde fazer isso comigo?" "Você teve tantas chances de me dizer, então como você pode me enganar assim?" Você deveria estar gritando comigo. Você acabou de levar uma facada nas costas. Você foi enganado por uma mulher que estava determinada a enganá-lo.

A metade do drama, mais precisamente na transição dos episódios 07 e 08, quando a Woojoo diz que se preocupa com a solidão do Dongjin mais do que com todos os outros problemas que tem na vida, me fez pensar naquela frase: eu me sinto mais eu por causa de você. Porque, ali, ela percebeu que era amor... numa costura perfeita com o título do drama. E o paralelo nas emoções quando ambos percebem e admitem o que realmente sentem pelo outro é uma das coisas mais bonitas desses 16 capítulos! Eles estão com medo dos próprios sentimentos: na cabeça dela, "aquele cara é filho da mulher que você mais odeia neste mundo"; na cabeça dele, "não vou me machucar de novo, não vou ser abandonado de novo... eu sei como todo relacionamento termina e, neste momento eu preciso me proteger, não posso ser, novamente, influenciado." Naqueles minutos, toneladas de vulnerabilidade!! De ternura!!

Eu não poderia te odiar, porque o amor que você me deu foi muito maior do que a dor que você me deu. Você me deu tudo. Apoio. Consolo. Amor. Você me deu tudo. E eu também sou grato. Obrigado por me amar.

Apesar de terminar bem e ser completamente entendível a passagem de tempo para que nossos protagonistas pudessem se reencontrar numa fase da vida em que os traumas do passado já não falassem tão alto, eu me entristeci pelo que poderia ter sido. Não foi um final feliz de última hora, não me entenda errado, foi algo muito crível, como dramas slice of life quase sempre nos proporcionam, mas a sensação que ficou, pra mim, foi de que a eles foi "permitido um final feliz" porque as demais peças da trama, finalmente, puderam ser felizes também. E eu explico.


Para Woojoo, a permissão implícita da família, principalmente da irmã mais velha e da mãe, foram cruciais para chegarmos àquele final. Eu sei que dói, mas em momento algum ninguém daquela família parou para pensar que Dongjin também era vítima e, principalmente, que ele não era sua mãe (tivemos um pequeno vislumbre do que poderia ter sido na cena do karaokê e o lindo found family que poderia ter sido explorado ou nas comidas enviadas à casa dele, mas depois tudo foi trazido à tona... tristeza e dor). Agora que a matriarca dos Shim reouve sua casa, que a Haesung estava num relacionamento estável e saudável com o Jun e que o Jigu pôde trabalhar com a sua arte, depois de todos os egoísmos e dependências emocionais e pesos colocados nos ombros de uma mulher jovem demais, sozinha demais, que já sofria demais, é que eles se deram conta de dizer "vai lá, Woojoo, agora você também tem permissão para ser feliz."


E talvez a trama tenha utilizado desse recurso para reforçar todas as injustiças que nosso casal protagonista sofreu, mas eu queria que, ao menos um pouquinho, a família dela fosse mais empática, menos egoísta.


Embora mais tarde me sentisse tão atraído pelo mundo e pelas pessoas, a ponto de misturar-me a eles sob os mais diversos nomes e de tudo fazer para conquistar-lhes a estima, à noite quase sempre permanecia na intimidade de minha casa. (Thomas Mann)

A partir daqui, com essa citação do Mann, eu gostaria de fazer algumas observações sobre dois dramas que gosto de chamar de 'lar', que me chegaram à lembrança, o tempo inteiro, enquanto assistia a Call it Love. Se você não assistiu a My Mister e a My Liberation Notes (Meu Diário para a Liberdade), talvez esta parte contenha spoilers (esteja avisado!).


Apatia, cansaço, dor, introspecção. O nítido peso de viver. A exaustão palpável. A construção da confiança. O começo de uma relação. A profundidade dos sentimentos. Todas essas expressões podem se aplicar aos 03 dramas de uma maneira muito íntima e singular. Correlacionando Call it Love com My Mister, as protagonistas se permitem viver as próprias emoções ao máximo: seja raiva, ódio, frustração, medo, a falsa agressividade... amor. A gente consegue ver a caminhada e as lutas internas das duas e acho que, por isso, torce tanto por elas. Há também o conformismo dos dois protagonistas, num estilo de vida estoico e, à primeira vista, 'digno de pena'. São duas histórias sobre vingança/desespero contadas da forma mais carinhosa possível; dando uma aula sobre esperança. As tramas parecem andar em câmera lenta, as expressões faciais são mínimas, mas totalmente expressivas e intensas porque os atores conseguem mesclar com maestria a hesitação, o falso desinteresse, a impulsividade, a indiferença, o desamparo e a opressão... e o começo de tudo isso ruindo.


Costurando com a trama de My Liberation Notes, o outdoor que diz "algo bom vai acontecer com você hoje" vira torcida para que isso aconteça na vida dos protagonistas. E aqui eu agradeço ao Tumblr por me ajudar a provar o ponto de que os dramas se conversam intimamente seja em cenas, como nesse primeiro caso, apelidado por mim como o começo da cura:


"Limpei minha casa em busca de uma mudança. O que você acha que devo fazer agora na minha casa limpa?", Gu pergunta à Mijeong. "Guardei a barraca que havia abandonado como uma ilha por muito tempo. Eu me sinto leve. Se eu não tivesse conhecido você, ainda estaria preso naquela ilha. Obrigado por me ajudar a escapar," Dongjin agradece à Woojoo.




Seja na composição de sentimentos e comportamentos das personagens, completamente relacionáveis, totalmente espelhadas:



Além disso, em ambas as histórias, há elas recalculando rotas, por ser amor, e eles entendendo as motivações delas, por ser amor. As metalinguagens. A passagem de ano trazendo as cores mais claras nas roupas deles; mais fofas, nas delas. Eles descobrindo como sorrir com o rosto inteiro e como foi necessária essa passagem de tempo porque os dois casais pareciam carregar nas bolsas o peso do mundo inteiro, mas agora se mostravam... leves. Minha tristeza foi não ter mais desses dois casais maravilhosos depois de tudo o que eles passaram porque eu queria um pouco mais, mas não me importo de usar a imaginação pra isso...

 

Call it Love é um melodrama belíssimo. Um relato honesto sobre as emoções humanas, com personagens perfeitamente imperfeitos. E enquanto eles sacrificam a própria paz a fim de dar um pouco de conforto, um punhado de afeto ao outro, a gente se sente abraçado, esperançoso; a gente entende que isso se chama amor.



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