Por onde for, quero ser seu par
Weightlifting Fairy Kim Bok Joo (A Fada do Levantamento de Peso Kim Bok Joo), ou como a Let batizou de forma maravilhosa, Halterofilinda Kim Bok Joo, se tornou um dos meus dramas preferidos. Minto, uma das minhas coisas preferidas da vida – e por coisas leia-se produção audiovisual de qualquer gênero, mas principalmente de romcom. Em 09 de março, numa janelinha de chat, Mari e eu ríamos e chorávamos ao assistir aos últimos episódios. No fim, parecia que a gente iria explodir de tanto amor e alcançar o céu vestidas de fita de paz. Porque é isso: a sensação de leveza invade cada parte de você, tornando impossível relembrar cada detalhe sem um suspiro ou um sorriso bobo nos lábios. Porque é sobre isso: a sensação de leveza evidencia a facilidade de se identificar com uma narrativa que fala sobre as primeiras vezes ao evidenciar que a vida é uma eterna primeira vez.
O enredo é simples e sem muitas surpresas, mas hipnotiza. Acompanhamos atletas universitários perseguindo os próprios sonhos enquanto encontram o amor: por si próprios, por outro alguém; pela vida que descobriram querer viver. E os ataques de fangirl surgem com os olhinhos do Joo Hyuk e a química absurda do casal que derrama carisma, conexão, cumplicidade. É relacionável quando nossa protagonista se apaixona, se machuca, parte o coração e parte para outra. E não é fácil como parece ao ser enumerado na frase anterior. Não é fácil porque é igual ao que acontece na vida da gente. É fácil entender todo o sofrimento, todos os relacionamentos afetivos, familiares e amorosos. É fácil ficar rendida com cada choro e cada descoberta. Porque são aspectos reais. Que praticamente todo mundo já passou. E, mesmo quem não passou, entende as jornadas pungentes do amadurecimento do Jung Joon Hyun e da Kim Bok Joo e todo o conceito da amizade-para-o-romance retratado com a maior sensibilidade e o humor possíveis nesta busca por significado e identidade completamente sincera, perdidamente apaixonante.
Bok Joo se achava a pessoa mais diferente do mundo. Por não ser vista como mulher, se via como menos mulher, como se a ela fosse negado o direito de ser feminina porque tinha calos nas mãos, não usava maquiagem ou acessórios considerados fofinhos. E o fato de ela não ser igual não a tornava diferente. Bok Joo se achava menos mulher porque acreditava que o amor fosse para qualquer pessoa, menos para ela. Até que ela se apaixona. E quebra; literalmente. E na colagem de seu coração partido, ela ganha um aliado. Alguém que nos apresenta a versão mais bonita do “amigos de infância que se apaixonam feat meu primeiro amor feat destino”. Alguém que estava de coração partido por assistir a um coração partido e que, mesmo sem saber, ajudou a colar o coração partido dela porque, apenas assim, o dele se colaria também. Por causa dela. Sempre foi eles. Desde o chocolate escondido dentro do livro. Desde o primeiro “gordinha” à dobradura de sapo antes da competição; antes de a ficha cair sobre viver um romance ainda sem estar dentro de um romance. A halterofilista promissora e o nadador prodígio formaram o par perfeito antes mesmo de serem um casal. Sabe aquela música "por onde for quero ser seu par"? Eles.
Ele. O "homem perfeito". Imaturo mesmo em toda a sua maturidade. Eu não consigo parar de pensar nos olhos gentis dele. Na compreensão dos detalhes dela. Deles. No carinho genuíno, no abraço que vai muito além do toque das mãos; é mais fundo, profundo. É como se jogar na água e se permitir envolver por tudo o que nos atravessa enquanto a gente brinca de viver, sem brincar de sentir; porque ele sente. Tanto! O sorriso fácil foi, diversas vezes, escudo para os traumas do abandono, proteção para dias enrugados pela dor. Até que ele, nadador como ele só, decidiu compartilhar braçadas com mais alguém. Se eu fecho os olhos, consigo ver os dois na praia, a pontinha do iceberg de vulnerabilidade boiando no mar de quem ele é. Daí corta para a piscina, o desgraçamento mental flutuando enquanto Joo Hyuk sentia o peso de viver e não conseguir afundar a própria dor, a tristeza, as vozes ao redor. Até que ele percebe que ele não mais se conjuga no singular, porque é ‘nós’. Eles. Ela: a boia no mar de solidão dele; a âncora para dias banhados pelas lágrimas. Corta para o terraço deitadinhos na cama, para o parque e o canudinho a dois, para o enxugar de cabelos e a brincadeira com a franjinha, para as tangerinas sendo levadas ao pai dela, para ela obrigando-o a entrar na farmácia da mãe dele. Eles. Sempre foi eles mesmo antes de ser.
Da imaturidade desajeitada a um relacionamento saudável e de apoio mútuo. Preciso de coisa melhor? Não. Os dois se entendem como atletas, como colegas, como amigos, como amados. Ele é cauteloso sobre a quem mostra sobre si, mas se revela completamente para ela, e não é tentando fazer com que ela goste dele para superar o médico, não é para preencher uma vaga em seu coração porque nem ele sabe (ainda!) o tanto que gosta dela, é ele em sua essência, estando lá apenas por querer estar lá, na forma máxima de carinho e afeto. Ela, que morria de medo de que a pessoa amada a visse numa competição por causa de todas as falhas aparentes que poderiam saltar aos olhos, despiu a alma aos poucos para quem, olhe só, seria seu grande amor. Um amor que os fazia confortáveis um com o outro, sendo quem são, principalmente por serem quem são. A flor fica sempre na semente, Bok Joo, ele te viu antes mesmo de você florescer.
Por mais que se preocupassem um com o outro, eles respeitavam a individualidade um do outro. Tão lindo, tão necessário. O que Joon Hyung faz quando a Bok Joo está quase congelando ao ar livre enquanto protesta ao fazer greve de fome? Ele não pede para ela entrar ou desistir de tudo. Ele traz adesivos para acalentar seus pés e roupas quentes para aquecê-la; mas quem derrete somos nós. Ele não tinha esse direito! Quando Bok Joo é aceita em Taereung, os dois comemoram um uníssono, mesmo que isso signifique que eles vão se ver muito pouco ou quase nada. E não há sombra do relacionamento passado dele, Joon Hyung apenas é motivado a ser um nadador ainda melhor para chegar lá também. Juntos. E assistir às cenas dele é constrangedor demais porque parece que estamos invadindo a intimidade do casal. Como superar estes dois?
Eles aprenderam a construir confiança diariamente enquanto, sempre e todos os dias, escolhiam um ao outro e eram embalados por uma OST belíssima. E o que dizer do “quase pedido de casamento” mais a cara deles impossível? As medalhas de ouro vieram sim e os nenéns com DNA para vencer qualquer competição de Ironman Triathlon também. Eu sei que sim. Porque aonde eles forem, eles são um par. E em 16 episódios meu coração assistiu a um sentimento sem nome virar um amor sólido. E toda a sequência de implicância-amizade-descoberta-romance me levou numa montanha-russa de sensações onde meu coração murchava, inflava, chorava e sorria, mas sempre mantinha a certeza de que sorte mesmo é ter a tal sorte de uma amor tranquilo que nasce não sei onde e cresce não sei porquê.
Preciso destacar, entre todas as outras coisas, a sensibilidade que o drama trouxe sobre o “ser atleta”. Todos, sem exceção, foram retratados de maneira humana. Não como símbolos de perfeição ou comparados a máquinas, mas sob um olhar sobre todas as pressões psicológicas e emocionais pelas quais eles são expostos antes de serem vistos em pódios ou laureados com medalhas. De distúrbios alimentares ou da saúde mental, crise de identidade quanto ao futuro enquanto esportista, sessões de terapia a depressão; o drama é sensível quanto às questões vitais da juventude sobre família, carreira, futuro e relacionamentos. E o que falar do discurso final do Treinador, na formatura das meninas, em que ele diz que elas podem voltar para lá e falar com ele, a qualquer hora, sempre que as coisas ficarem difíceis? Um retrato claro do que é equipe, a importância do diálogo; a construção do que é ser grupo; nós.
E, por falar em nós, a certeza é de que não conseguirei desatar o nó que esse drama deu em mim. Eu aprendi tanto com a união da equipe de levantamento de peso, com a amizade linda do trio Swag e todas as cenas de uma amizade inseparável feat pau para toda obra, em que os laços invisíveis se fortaleciam nas noites de bebedeira e karaokê, sentadas para comer salsicha, churrasco ou frango frito, mas principalmente juntas, como manda o regulamento do pacote premium de amizade.
As relações familiares também são um ponto alto do drama. De filhos gerados no coração a famílias construídas nos corredores/dormitórios da Universidade ao maior paralelo parental que o drama pôde fazer: a mãe da Shi-ho, quando ouve sobre os problemas que a filha ginasta está enfrentando, grita o "sua vida é minha" enquanto o pai da Bok Joo, diante da crise esportiva da nossa protagonista, olha em seus olhos e diz "a vida é sua". Foram momentos diferentes, mas tão significativos que me deixaram pensativa durante bastante tempo e me fizeram pensar em empatia e no conceito equivocado de as pessoas acharem que, ser empático é se colocar no lugar do outro. Porque isso é impossível, nem se eu quiser muito eu posso ser você e sentir o que você sente, porque nós somos contexto e, inevitavelmente, nossos contextos são diferentes; mas eu posso oferecer empatia ao me predispor a te entender, a te acolher, a me fazer presente pra te ouvir, tal qual o pai da Bok Joo fez. O que, para ela, fez toda a diferença.
Halterofilinda Kim Bok Joo é sobre a vida. A da gente, pois é. Sabe quando toda a normalidade funciona? É sobre isso. As personagens são relacionáveis porque são reais demais e eu acho que aí reside todo o charme do drama: em ser comum. Sabe quando a Pam, em The Office, fala “there's a lot of beauty in ordinary things. Isn't that kind of the point?”? É sobre isso. A gente se vê vivendo, ainda que indiretamente, por meio das personagens. E, assim, a gente percebe que o simples é bom. Que o simples é tudo.
Bônus: Os olhares dele. Derretem calotas polares. Aquecem corações. Contam a história de amor deles. Me fazem pensar que Shakira escreveu En tus Pupilas pensando nele. Neles.
Y así llegaste tú
Devolviéndome la fé
Sin poemas y sin flores
Con defectos, con errores
Pero en pie
Y siento
Algo en ti, algo entre los dos
Que me hace insistir
Cuando miro en tus pupilas sé que
Dios no dejó de existir
Tu lo haces vivir
La vida es una colección de recuerdos
Pero nada como tu recuerdo también
Desde la redondez que tienen tus labios
Al olor de tu pelo
Al color de tu piel
No pienses que te irás y me voy a resignar
Eres lo mejor que me ha pasado
Entre lo mundano y lo sagrado
Y aun más
Para encerrar, meu sentimento sobre este drama perfeito:
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