Our Beloved Summer: ilhas de afeto em mares de solidão
Para ler ouvindo isso aqui:
Eu realmente tenho problemas para dormir. Mas, estranhamente, consegui dormir profundamente quando você estava ao meu lado.
Our Beloved Summer (Netflix) terminou essa semana, entrou para a lista mental dos meus dramas preferidos, a OST não sai dos meus ouvidos, e eu ainda não consegui desapegar/parar de pensar/não sofrer de saudades. Kim Dami e Choi Wooshik interpretam Kook Yeongsu e Choi Ung, dois jovens que participaram de um 'reality escolar' que mostrava a vivência da melhor e do pior aluno da escola (que se odiavam, importante deixar isso claro!), reunindo-os 10 anos depois, agora como ex-namorados, para um documentário, devido ao sucesso do programa na internet e o questionamento das redes sociais sobre como eles estariam atualmente. É uma romcom preciosa demais e, ao longo dos 16 episódios, traz romance, relações familiares e de amizade, formas diferentes de se trabalhar com arte e a sensação de que você conhece aquelas pessoas desde o nascimento ou que já viveu na rua de um dos trocentos estabelecimentos dos pais do Ung, rs. Eu amei tudo, principalmente porque me permiti sentir tudo, e acho que por isso uma das coisas que me fez refletir bastante e amar mais ainda foi que, apesar de ser um romance (e muito bom, por sinal), Our Beloved Summer é uma história sobre solidão, em suas diversas roupagens e seus variados tipos.
Não há problema em ficar sozinho desde o início. Você estaria acostumado com isso. Mas ficar sozinho depois de estar com alguém não é algo que eu queira experimentar novamente.
Choi Ung, nosso protagonista e desenhista incrível, traz à primeira vista, o retrato da separação amorosa e a famosa fossa: eles se detestavam na época da escola, passaram a namorar e um dia a mão de quem ele amava soltou a dele, seguindo em frente porque, nas palavras dela, ele era "a única coisa que ela poderia abandonar". Foi doído, e aprofundar na dor do Ung nos trouxe a realidade do abandono principal, ainda criança; o que refletiu em seus relacionamentos a partir dali: "adoro coisas que não mudam, mas as pessoas mudam ou desaparecem com o tempo. Por isso não há pessoas em meus trabalhos", e a solidão da criança interior, do adulto calado demais, gritava a necessidade de se sentir importante, cuidado, desejado. Foi impossível não chorar quando ele, com os olhinhos marejados, confessou à amada que "queria ver você me amando, eu queria ver você amar apenas a mim", e a leveza trazida naquele momento ajudou-o a despedir-se da solidão, levando-o a outra cena belíssima com a mãe, em que, sem muitas palavras, ela reafirmou aquilo que ele precisava ouvir para ser validado por quem era: o filho deles, o filho amado sem apesar de ou qualquer conjunção condicional. Ung tornou-se quem era porque percebeu ser amado por quem sempre foi.
Eu achava minha vida muito chata. Mas, na verdade, eu sempre tive bons momentos. A única pessoa que fez minha vida parecer patética fui eu mesma.
A solidão da Yeongsu é claramente identificável e, infelizmente, muito relacionável comigo mesma em diversos momentos. Ela cresceu como a melhor aluna e carregava as expectativas de um futuro brilhante e promissor, mas a vida lhe deu um roteiro diferente. E por se sentir responsável pela família, ela aprendeu a fazer tudo sozinha; pior, a não dividir suas agonias nem expressar suas necessidades porque, assim, ela entendeu que não precisava de ajuda já que ela "daria um jeito". Os muros eram cada vez mais altos, as palavras cada vez mais enterradas, as necessidades negligenciadas por uma vida no piloto automático em que se evita querer, pensar, sentir demais. "Para evitar me machucar, machuquei as pessoas que eu amava," porque quando a gente se sente sozinho por muito tempo, é difícil deixar alguém se aproximar, é difícil demonstrar as nossas falhas, as ranhuras de uma vida que evita o contato, mas que necessita de proteção, que precisa, por vezes, de mais alguém para caminhar pelas entrelinhas da vida (a cena dela no banheiro ainda me dói o coração).
Minha vida não era uma obra de arte. Era apenas um episódio de uma série de documentários chatos que ninguém assiste.
Jiung, quem te feriu, meu amor? Eu passei quase o drama inteiro pedindo por um pouco de felicidade pra vida desse precioso. A solidão era a melhor amiga dele desde muito cedo, a falta do toque materno de quem estava presente apenas fisicamente, a falta de uma base para se apoiar, para quem retornar, a falta que foi preenchendo-o de vazios, de dores, de emoções reprimidas, das negligências vividas. "Você se acostuma com a dor e acaba ficando entorpecido," e a cena dos pêssegos vem automaticamente e me incomoda num tanto! A solidão do Jiung flertou com a solidão do Choi Ung e assim, dividindo não apenas o nome, eles aprenderam a compartilhar a vida e, ainda que pouco falassem e menos ainda expressassem, eles se descobriram par. Eu amo ver famílias que nascem do afeto ou do querer e vê-los como uma grande família foi tão bonito! Jiung precisava ser ouvido, mas pra isso ele precisava aprender a falar: dele, sobre ele. É tão difícil, né? Ele trabalhava atrás das câmeras e acostumou-se a reivindicar os bastidores mesmo sendo o protagonista de sua própria existência.
Por que as pessoas não conseguem me entender? E por que elas são tão rápidas em julgar?
NJ é o tipo de personagem que, à primeira vista, muitos podem pensar que será chatíssima. Uma idol superfamosa que tem uma queda pelo protagonista e deixa isso claro que é pra lerdeza dele não o deixar em dúvida! "Eles acham que me conhecem e me julgam tão facilmente", ela te responderia prontamente. E à medida que vamos conhecendo-a, é impossível não se encantar com essa estrela solitária demais, adorável demais! NJ vivia cercada por pessoas, muitos fãs que juravam amor eterno, muitos haters com comentários maldosos em busca de clique, mas ninguém para chamar de amigo, ninguém que a visse como pessoa, para além dos holofotes. Eu só queria essa lindeza encontrando um amor pra chamar de seu enquanto ela encosta a cabeça no peito desse amor ao admirar os quadros do Ung (pronto, a fic tá feita!).
Uma vida sem amor é como um ano sem verão.
Acho que essa citação (não me lembro a autoria, mas é a única dentre as citadas acima que não fora retirada do drama, aliás) resume bem Our Beloved Summer, além de fazer um trocadilho perfeito pra esse drama que traz verão no nome e nos deu cenas na neve tão poéticas e especiais! No penúltimo episódio, como uma afirmação da evolução totalmente sensível e real, temos as emoções do trio protagonista novamente em evidência, mas dessa vez com a certeza de que poderiam se abrir, se deixar cuidar, se permitir pedir ajuda e foi tão bonita a naturalidade com que eles fizeram isso porque, ali, eles perceberam que não precisavam mais se vestir de solidão; eles perceberam a rede de afeto que os amparava. Um destaque especialíssimo é para a relação da Sol-yi e do Eunho (ele chamando-a de noona fazia meu coração derreter!!) que eram muito mais do que a melhor amiga da prota e o empresário do prota, e isso é outro ponto importante do drama: ele trouxe pessoas inteiras, completas, realistas. E por realismo, quero dizer duas coisinhas antes de finalizar: a) ENFIM a Coréia mostrou um relacionamento a distância em que as pessoas não ficam quinhentos anos sem se falar porque existe celular e avião; b) Choi Ung acordando pra dormir de novo e dizendo que o maior sonho dele era "aproveitar o sol durante o dia e me deitar debaixo de uma lâmpada à noite", é representativo demais para todos aqueles que amam curtir uma preguiça (eu)!
Duas curiosidades sobre o drama: Choi Ung falava que era o 267º aluno no ranking da escola e este número fala sobre respeitar seu tempo e progredir em seu próprio ritmo, algo que é nítido na evolução do nosso protagonista! Outra coisa que amei foi que os títulos dos episódios eram ou faziam alusão a nomes de filmes (listados na ordem) que conversavam com a proposta da trama: I Know What You Did Last Summer; 1792 Days Of Summer (referência a 500 Days Of Summer); 10 Things I Hate About You; The Boy, Or The Girl, We Liked Then (Those Years, The Girl We Chased After Together ou You're The Apple Of My Eye, um filme taiwanês); A Secret That Can't Be Told (Secret, mais um filme de Taiwan); Pride And Prejudice; Catch Me If You Can; Before Sunset; Just Friends; Hello, My Soulmate (Soul Mate, filme chinês); Our Nights Are More Beautiful Than Your Days (My Nights Are More Beautiful Than Your Days, um filme francês); Begin Again; Love Actually; Life is Beautiful (um filme italiano), Three Idiots (um filme indiano); Our Beloved Summer (e a metalinguagem pro título do próprio drama!)
Our Beloved Summer tem 10 episódios disponíveis na Netflix, com conteúdo dublado, sendo liberados 02 episódios às segundas-feiras, finalizando o drama na plataforma em 14 de fevereiro. Para quem pensa em começar a ver, fica aí a dica!
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